Linfedema é uma patologia crónica progressiva do sistema linfático em que ocorre acumulação de fluído rico em proteínas nos tecidos e subsequente inflamação, hipertrofia do tecido adiposo e fibrose. O edema e subsequente endurecimento da região afetada podem causar desfiguração, bem como diminuição da mobilidade e função1.
Linfedema pode classificar-se como primário ou secundário dependendo das suas causas2.
A causa subjacente ao Linfedema é uma das disfunções do transporte linfático. A função normal dos vasos linfáticos é a remoção do efluxo líquido dos capilares que se acumula no interstício, mantendo assim uma pressão intersticial estável. Os capilares venosos reabsorvem 90% do fluido no interstício, enquanto o fluido remanescente é transportado para o sangue pelos vasos linfáticos como linfa. Em condições normais a mesma quantidade é transportada para o interstício como é transportada a partir dele, um equilíbrio que é interrompido no Linfedema devido à capacidade de transporte linfática reduzida, levando a acumulação de liquido e edema1.
Os vasos linfáticos têm também a função de remover macromoléculas como as proteínas do interstício. Em casos de ausência, disfunção ou obstrução do sistema linfático, ocorre estase linfática, permitindo assim uma acumulação de proteínas e fluido dentro do interstício. O aumento de proteínas provoca um aumento da pressão osmótica coloidal, que impulsiona fluido para o interstício que por sua vez resulta em edema e nas manifestações clinicas do Linfedema1.
A classificação clínica do edema linfedematoso segue os seguintes parâmetros1:
Estágio 0: condições latentes ou subclínicas em que o edema não é evidente apesar do transporte linfático comprometido, que podem existir meses ou anos antes de ocorrer o edema evidente (estágios I-III);
Estágio I: acumulação precoce de fluido com conteúdo proteico relativamente alto (em comparação com o edema venoso) que diminui com a elevação do membro. Pode ocorrer sinal de godet;
Estágio II: o sinal de godet pode ou não ocorrer enquanto se desenvolve fibrose dos tecidos. A elevação do membro raramente reduz o edema por si só;
Estágio III: elefantíase linfática onde o sinal de godet está ausente. Geralmente desenvolvem-se alterações tróficas da pele como acantose, depósitos de gordura e o aparecimento avultado de verrugas1.
Uma condição comum muitas vezes confundida com Linfedema é a insuficiência venosa crónica, uma patologia associada à hipertensão venosa, derivada do refluxo que ocorre devido a um dos seguintes quatro mecanismos fisiopatológicos1,3,4:
A insuficiência venosa crónica ocorre quando o transporte venoso normal é perturbado, podendo esta perturbação ser ao nível do sistema venoso superficial ou profundo, das veias perfurantes ou de uma combinação delas5.
Utentes com doença venosa crónica podem apresentar sinais e sintomas como dor no membro, sensação do membro pesado, edema, eczema, lipodermatoesclerose, tromboflebite e ulceração6.
A doença venosa crónica pode ser classificada de acordo com a classificação descritiva clínica, etiológica, anatómica e fisiopatológica (CEAP), que fornece um quadro ordenado para a comunicação e tomada de decisão. Os sinais clínicos no membro afetado estão categorizados em sete classes designadas de C0 a C64.:
A terapia compressiva é uma componente chave no controlo eficaz de utentes com problemas nos membros inferiores associados a distúrbios venosos, linfáticos e também distúrbios relacionados com gordura como o lipedema. A terapia compressiva tem diversos efeitos fisiopatológicos como a redução da filtração capilar, minimizando a acumulação de fluido tecidular e os processos inflamatórios, aumentando o retorno venoso e melhorando a capacidade de transporte linfático. Também reduz o volume do membro e melhora o funcionamento nos utentes com Linfedema nos membros inferiores7.
A terapia compressiva aplicada à insuficiência venosa é realizada através da utilização de meias de compressão de malha circular. Estas encontram-se categorizadas em 4 graus de compressão, cuja aplicação depende do estádio em que se encontra a doença. Podem ainda ser encontrados diferentes modelos que permitem maior conforto, controlo da temperatura da perna, controlo bacteriano, entre outros.
A terapia compressiva aplicada ao Linfedema é realizada através da utilização de meias de compressão de malha plana. Á semelhança da terapia compressiva na insuficiência venosa, encontram-se categorizadas em 4 graus de compressão, cuja aplicação depende do estádio em que se encontra a doença. Podem ainda ser encontrados diferentes modelos que permitem maior conforto, controlo da temperatura da perna, controlo bacteriano, e ainda compressão ajustável, permitindo alterar o grau de compressão consoante a progressão do tratamento
A autoaplicação da compressão, fornecida pela capacidade para compressão ajustável dos dispositivos aplicados em casos de Linfedema, é abordada como grande proporcionadora de independência, autoeficácia e de sensação de controlo para utentes com Linfedema7.
Referências
1. Warren AG, Brorson H, Borud LJ, Slavin SA. Lymphedema. Ann Plast Surg. 2007;59(4):464-472. doi:10.1097/01.sap.0000257149.42922.7e
2. Hespe GE, Nitti MD, Mehrara BJ. Pathophysiology of lymphedema. Lymphedema Present Diagnosis, Treat. 2015;9343(13):9-18. doi:10.1007/978-3-319-14493-1_2
3. Valencia IC, Falabella A, Kirsner RS, Eaglstein WH. Chronic venous insufficiency and venous leg ulceration. J Am Acad Dermatol. 2001;44(3):401-424. doi:10.1067/mjd.2001.111633
4. Bergan J, Coleridge Smith P, Boisseau M, Eklof B, Nicolaides A, Schmid G. Chronic venous disease. N Engl J Med. 2006;355:488-498. doi:10.1056/NEJMra055289
5. Beebe-Dimmer JL, Pfeifer JR, Engle JS, Schottenfeld D. The epidemiology of chronic venous insufficiency and varicose veins. Ann Epidemiol. 2005;15(3):175-184. doi:10.1016/j.annepidem.2004.05.015
6. Lim CS, Davies AH. Graduated compression stockings. Cmaj. 2014;186(10):391-398. doi:10.1503/cmaj.131281
7. Drive QM. A review of the evidence for adjustable compression wrap devices . 2016;(April):1-12. doi:10.12968/jowc.2016.25.5.242