Linfedema, Insuficiência venosa crónica e a terapia compressiva - Proaxis

Linfedema, Insuficiência venosa crónica e a terapia compressiva

Linfedema, o que é?

Linfedema é uma patologia crónica progressiva do sistema linfático em que ocorre acumulação de fluído rico em proteínas nos tecidos e subsequente inflamação, hipertrofia do tecido adiposo e fibrose. O edema e subsequente endurecimento da região afetada podem causar desfiguração, bem como diminuição da mobilidade e função1.

Figura 1: Manifestação clínica de Linfedema no membro inferior

Linfedema pode classificar-se como primário ou secundário dependendo das suas causas2.

  • Linfedema primário pode ser congénito em que a variável é a idade da incidência da doença ou, como alternativa, as características morfológicas;
  • Linfedema secundário desenvolve-se após disrupção ou obstrução dos vasos linfáticos por processos de outras patologias ou como consequência de cirurgia ou radioterapia;

A causa subjacente ao Linfedema é uma das disfunções do transporte linfático. A função normal dos vasos linfáticos é a remoção do efluxo líquido dos capilares que se acumula no interstício, mantendo assim uma pressão intersticial estável. Os capilares venosos reabsorvem 90% do fluido no interstício, enquanto o fluido remanescente é transportado para o sangue pelos vasos linfáticos como linfa. Em condições normais a mesma quantidade é transportada para o interstício como é transportada a partir dele, um equilíbrio que é interrompido no Linfedema devido à capacidade de transporte linfática reduzida, levando a acumulação de liquido e edema1.

Os vasos linfáticos têm também a função de remover macromoléculas como as proteínas do interstício. Em casos de ausência, disfunção ou obstrução do sistema linfático, ocorre estase linfática, permitindo assim uma acumulação de proteínas e fluido dentro do interstício. O aumento de proteínas provoca um aumento da pressão osmótica coloidal, que impulsiona fluido para o interstício que por sua vez resulta em edema e nas manifestações clinicas do Linfedema1.

A classificação clínica do edema linfedematoso segue os seguintes parâmetros1:

Estágio 0: condições latentes ou subclínicas em que o edema não é evidente apesar do transporte linfático comprometido, que podem existir meses ou anos antes de ocorrer o edema evidente (estágios I-III);

Estágio I: acumulação precoce de fluido com conteúdo proteico relativamente alto (em comparação com o edema venoso) que diminui com a elevação do membro. Pode ocorrer sinal de godet;

Estágio II: o sinal de godet pode ou não ocorrer enquanto se desenvolve fibrose dos tecidos. A elevação do membro raramente reduz o edema por si só;

Estágio III: elefantíase linfática onde o sinal de godet está ausente. Geralmente desenvolvem-se alterações tróficas da pele como acantose, depósitos de gordura e o aparecimento avultado de verrugas1.

Uma condição comum muitas vezes confundida com Linfedema é a insuficiência venosa crónica, uma patologia associada à hipertensão venosa, derivada do refluxo que ocorre devido a um dos seguintes quatro mecanismos fisiopatológicos1,3,4:

  • disfunção das válvulas venosas nas veias superficiais e/ou comunicantes devido a insuficiência congénita ou adquirida;
Figura 2: Válvulas venosas, sem disfunção (esquerda) e com disfunção (direita)
  • disfunção das válvulas no sistema venoso profundo devido a ausência congénita, fraqueza inerente ou dano trombótico;
  • obstrução venosa profunda em vez de incompetência valvular;
  • disfunção muscular e falha da bomba muscular dos gémeos devido a condições inflamatórias das articulações ou dos músculos, fibrose ou neuropatias.
Figura 3: Bombas musculares

A insuficiência venosa crónica ocorre quando o transporte venoso normal é perturbado, podendo esta perturbação ser ao nível do sistema venoso superficial ou profundo, das veias perfurantes ou de uma combinação delas5.

Figura 4: Sistema venoso

Utentes com doença venosa crónica podem apresentar sinais e sintomas como dor no membro, sensação do membro pesado, edema, eczema, lipodermatoesclerose, tromboflebite e ulceração6.

A doença venosa crónica pode ser classificada de acordo com a classificação descritiva clínica, etiológica, anatómica e fisiopatológica (CEAP), que fornece um quadro ordenado para a comunicação e tomada de decisão. Os sinais clínicos no membro afetado estão categorizados em sete classes designadas de C0 a C64.:

  • C0 não há nenhum sinal visível ou palpável de doença venosa;
  • C1 o utente apresenta telangiectasias e veias reticulares;
  • C2 indica a presença de veias varicosas;
  • C3 refere a presença de edema sem alterações cutâneas;
  • C4 refere as alterações cutâneas e divide-se em dois subgrupos, o C4a que indica pigmentação, eczema venoso ou ambos e o C4b que indica lipodermatoesclerose, atrofia alba ou ambos;
  • C5 refere alterações cutâneas com ulceração tratada;
  • C6 que se refere a alterações cutâneas com ulceração ativa

A terapia compressiva é uma componente chave no controlo eficaz de utentes com problemas nos membros inferiores associados a distúrbios venosos, linfáticos e também distúrbios relacionados com gordura como o lipedema. A terapia compressiva tem diversos efeitos fisiopatológicos como a redução da filtração capilar, minimizando a acumulação de fluido tecidular e os processos inflamatórios, aumentando o retorno venoso e melhorando a capacidade de transporte linfático. Também reduz o volume do membro e melhora o funcionamento nos utentes com Linfedema nos membros inferiores7.

A terapia compressiva aplicada à insuficiência venosa é realizada através da utilização de meias de compressão de malha circular. Estas encontram-se categorizadas em 4 graus de compressão, cuja aplicação depende do estádio em que se encontra a doença. Podem ainda ser encontrados diferentes modelos que permitem maior conforto, controlo da temperatura da perna, controlo bacteriano, entre outros.

Figura 5: Terapia compressiva no auxilio do retorno venoso

A terapia compressiva aplicada ao Linfedema é realizada através da utilização de meias de compressão de malha plana. Á semelhança da terapia compressiva na insuficiência venosa, encontram-se categorizadas em 4 graus de compressão, cuja aplicação depende do estádio em que se encontra a doença. Podem ainda ser encontrados diferentes modelos que permitem maior conforto, controlo da temperatura da perna, controlo bacteriano, e ainda compressão ajustável, permitindo alterar o grau de compressão consoante a progressão do tratamento

A autoaplicação da compressão, fornecida pela capacidade para compressão ajustável dos dispositivos aplicados em casos de Linfedema, é abordada como grande proporcionadora de independência, autoeficácia e de sensação de controlo para utentes com Linfedema7.

Referências

1.          Warren AG, Brorson H, Borud LJ, Slavin SA. Lymphedema. Ann Plast Surg. 2007;59(4):464-472. doi:10.1097/01.sap.0000257149.42922.7e

2.          Hespe GE, Nitti MD, Mehrara BJ. Pathophysiology of lymphedema. Lymphedema Present Diagnosis, Treat. 2015;9343(13):9-18. doi:10.1007/978-3-319-14493-1_2

3.          Valencia IC, Falabella A, Kirsner RS, Eaglstein WH. Chronic venous insufficiency and venous leg ulceration. J Am Acad Dermatol. 2001;44(3):401-424. doi:10.1067/mjd.2001.111633

4.          Bergan J, Coleridge Smith P, Boisseau M, Eklof B, Nicolaides A, Schmid G. Chronic venous disease. N Engl J Med. 2006;355:488-498. doi:10.1056/NEJMra055289

5.          Beebe-Dimmer JL, Pfeifer JR, Engle JS, Schottenfeld D. The epidemiology of chronic venous insufficiency and varicose veins. Ann Epidemiol. 2005;15(3):175-184. doi:10.1016/j.annepidem.2004.05.015

6.          Lim CS, Davies AH. Graduated compression stockings. Cmaj. 2014;186(10):391-398. doi:10.1503/cmaj.131281

7.          Drive QM. A review of the evidence for adjustable compression wrap devices . 2016;(April):1-12. doi:10.12968/jowc.2016.25.5.242

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